FELIZ ANO NOVO!!!


O Novo, de novo!

Quero algo novo, de novo!
Começar do zero, se possível,
Ou fazer tudo outra vez.
Fazer dos erros, acertos,
Crias novas perspectivas,
Ter esperanças na vida,
Em mim e em você.
Quero não medir o tempo,
Mesmo que seja passageiro,
Caminhar descalça na areia,
Sorrir sem medo de ofender.
Quero gritar o amor
Ao som dos ventos,
Pular de alegria, como criança.
Estender as mãos em confiança,
Ver filhos e netos crescer.
Quero o novo sonho de paz,
Quero a velha amizade sincera,
Como a pura magia da hera,
Que cresce procurando o céu.
Quero viver o mais lindo sonho,
E realizá-lo sem demora,
Mesmo que não marque hora,
E simplesmente aconteça.
Que seja um novo, tranqüilo,
Real, único e evidente,
De amor e paz, de verdade,
Que traga a nós, felicidade,
E a vida como um presente.

Rita de Cássia



ORIGEM DO ANO NOVO.


Origem e Curiosidades sobre o Ano-Novo
Você sabia que o ano-novo se consolidou na maioria dos países há 500 anos? Desde os calendários babilônicos (2.800 a.C.) até o calendário gregoriano, o réveillon mudou muitas vezes de data.
A primeira comemoração, chamada de "Festival de ano-novo" ocorreu na Mesopotâmia por volta de 2.000 a. C. Na Babilônia, a festa começava na ocasião da lua nova indicando o equinócio da primavera, ou seja, um dos momentos em que o Sol se aproxima da linha do Equador onde os dias e noites tem a mesma duração.
No calendário atual, isto ocorre em meados de março (mais precisamente em 19 de março, data que os espiritualistas comemoram o ano-novo esotérico).
Os assírios, persas, fenícios e egípcios comemoravam o ano-novo no mês de setembro (dia 23). Já os gregos, celebravam o início de um novo ciclo entre os dias 21 ou 22 do mês de dezembro.
Os romanos foram os primeiros a estabelecerem um dia no calendário para a comemoração desta grande festa (753 a.C. - 476 d.C.) O ano começava em 1º de março, mas foi trocado em 153 a. C. para 1º de janeiro e mantido no calendário juliano, adotado em 46 a. C. Em 1582 a Igreja consolidou a comemoração, quando adotou o calendário gregoriano.
Alguns povos e países comemoram em datas diferentes. Ainda hoje, na China, a festa da passagem do ano começa em fins de janeiro ou princípio de fevereiro. Durante os festejos, os chineses realizam desfiles e shows pirotécnicos. No Japão, o ano-novo é comemorado do dia 1º de janeiro ao dia 3 de janeiro.
A comunidade judaica tem um calendário próprio e sua festa de ano-novo ou Rosh Hashaná, - "A festa das trombetas" -, dura dois dias do mês Tishrê, que ocorre em meados de setembro ao início de outubro do calendário gregoriano. Para os islâmicos, o ano-novo é celebrado em meados de maio, marcando um novo início. A contagem corresponde ao aniversário da Hégira (em árabe, emigração), cujo Ano Zero corresponde ao nosso ano de 622, pois nesta ocasião, o profeta Maomé, deixou a cidade de Meca estabelecendo-se em Medina.
Contagem decrescente os últimos minutos do dia 31 de Dezembro seja: 10, 9, 8, 7, 6, 5, 4, 3, 2, 1. Feliz 2004!!!!!! A passagem de Ano Novo é o fim de um ciclo, início de outro. É um momento sempre cheio de promessas. E os rituais alimentam os nossos sonhos e dão vida às nossas celebrações. Na passagem de Ano Novo, não podemos deixar de aproveitar a oportunidade para enchermos o coração de esperança e começar tudo de novo. E para que a festa corra muito bem, há algumas tradições e rituais que não podemos esquecer...
- Fogos e barulho. No mundo inteiro o Ano Novo começa entre fogos de artifício, buzinadas, apitos e gritos de alegria. A tradição é muito antiga e, dizem, serve para espantar os maus espíritos. As pessoas reúnem-se para celebrar a festa com muitos abraços.
- Roupa nova. Vestir uma peça de roupa que nunca tenha sido usada combina com o espírito de renovação do Ano Novo. O costume é universal e aparece em várias versões, como trocar os lençóis da cama e usar uma roupa de baixo nova. 




Origem do Ano Novo
As comemorações de Ano Novo variam de cultura a cultura, mas universalmente a entrada do ano é festejada mesmo em diferentes datas.
O nosso calendário é originário dos romanos com a contagem dos dias, meses e anos. Desde o começo do século XVI, o Ano Novo era festejado em 25 de Março, data que marcava a chegada da primavera.
As festas duravam uma semana e terminavam no dia 1º de Abril. O Papa Gregório XIII instituiu o 1º de Janeiro como o primeiro dia do ano, mas alguns franceses resistiram à mudança e quiseram manter a tradição. Só que as pessoas passaram a pregar partidas e ridicularizar os conservadores, enviando presentes estranhos e convites para festas que não existiam. Assim, nasceu o Dia da Mentira, que é a falsa comemoração do Ano Novo.
Tradições de Ano Novo no mundo:
Itália: O ano novo é a mais pagã das festas, sendo recebido com Fogos de artifícios, que deixam todas as pessoas acordadas. Dizem que os que dormem na virada do ano dormirão todo o ano e na noite de São Silvestre, santo cuja festa coincide com o último dia do ano. Em várias partes do país, dois pratos são considerados essenciais. O pé de porco e as lentilhas. Os italianos se reúnem na Piazza Navona, Fontana di Trevi, Trinitá dei Monit e Piazza del Popolo.

Estados Unidos: A mais famosa passagem de Ano Novo nos EUA é em Nova Iorque, na Time Square, onde o povo se encontra para beber, dançar, correr e gritar. Há pessoas de todas as idades e níveis sociais. Durante a contagem regressiva, uma grande maçã vai descendo no meio da praça e explode exactamente à meia-noite, jogando balas e bombons para todos os lados.
Austrália: Em Sydney, uma das mais importantes cidades australianas, três horas antes da meia-noite, há uma queima de fogos na frente da Opera House e da Golden Bridge, o principal cartão postal da cidade. Para assistir ao espectáculo, os australianos se juntam no porto. Depois, recolhem-se a suas casas para passar a virada do ano com a família e só retornam às ruas na madrugada, quando os principais destinos são os “pubs” e as praias.
França: O principal ponto é a avenida Champs-Elysées, em Paris, próximo ao Arco do Triunfo. Os franceses assistem à queima de fogos, cada um com sua garrafa de champanhe (para as crianças sumos e refrigerantes). Outros vão ver a saída do Paris-Dacar, no Trocadéro, que é marcada para a meia-noite. Outros costumam ir às festas em hotéis.
Brasil: No Rio de Janeiro, precisamente na praia de Copacabana, onde a passagem do Ano Novo reúne milhares de pessoas para verem os fogos de artifício. As tradições consistem em usar branco e jogar flores para “Yemanjá”, rainha do mar para os brasileiros.
Inglaterra: Grande parte dos londrinos passa a meia-noite em suas casas, com a família e amigos. Outros vão à Trafalgar Square, umas das praças mais belas da cidade, à frente do National Gallery. Lá, assistem à queima de fogos. Depois, há festas em várias sítios da cidade.
Alemanha: As pessoas reúnem-se no Portal de Brandemburgo, no centro, perto de onde ficava o Muro de Berlim. Tradicionalmente, não há fogos de artificio.
Curiosidade: Em Macau, e para todos os chineses do mundo, o maior festival do ano é o Novo Ano Chinês. Ele é comemorado entre 15 de Janeiro e 15 de Fevereiro de acordo com a primeira lua nova depois do início do Inverno. Lá é habitual limparem as casas e fazerem muita comida (Bolinhos Chineses de Ano Novo - Yau Gwok, símbolo de prosperidade). Há muitos fogos de artifício e as ruas ficam cobertas de pequenos pedaços de papel vermelho.
Cada cultura comemora seu Ano Novo. Os muçulmanos têm seu próprio calendário que se chama “Hégira”, que começou no ano 632 d.C. do nosso calendário. A passagem do Ano Novo também tem data diferente – 6 de Junho, foi quando o mensageiro Mohammad fez a sua peregrinação de despedida a Meca.
As comemorações do Ano Novo judaico, chamado “Rosh Hashanah”. É uma festa móvel no mês de Setembro (este ano foi 6 de Setembro). As festividades são para a chegada do ano 5763 e são a oportunidade para se deliciar com as tradicionais receitas judaicas: o “Chalah”, uma espécie de pão e além do pão, é costume sempre se comer peixe porque ele nada sempre para frente.
O primeiro dia do ano é dedicado à confraternização. É o Dia da Fraternidade Universal. É hora de pagar as dívidas e devolver tudo que se pediu emprestado ao longo do ano. Esse gesto reflecte a nossa necessidade de fazer um balanço da vida e de começar o ano com as contas acertadas.
Tradições Portuguesas:
As pessoas valorizam muito a festa de Ano Novo, porque sentem o desejo de se renovar. Uma das nossas tradições é sair às janelas de casas batendo panelas para festejar a chegada do novo ano. Nos dias 25 de Dezembro e 1º de Janeiro, costumamos comer uma mistura feita com as sobras das ceias, que são levadas ao forno. O ingrediente principal da chamada “Roupa Velha” é o bacalhau cozido, com ovos, cebola e batatas, regados a azeite.
Para as superstições, comer 12 passas durante as 12 badaladas na virada do ano traz muita sorte, assim como subir numa cadeira com uma nota (dinheiro) em uma das mãos. Em várias zonas do litoral, há pessoas que mesmo no frio do Inverno conseguem entrar na água e saudar o Ano Novo.

HISTÓRIA DO NATAL PARA CRIANÇAS.

Conquistas.

Conquistas

O homem é um desbravador por natureza, já nasce com a árdua missão de conquistar a própria vida. Sua luta começa ao sair do ventre materno, quando consegue respirar e manter-se longe da aconchegante e protetora muralha uterina. Depois vem as descobertas do seu próprio eu, as primeiras palavras, os primeiros passos, o aprendizado e a sobrevivência.
Com o passar dos dias, meses, e anos, como uma aventura, tudo fica mais difícil, cada passo dado, literalmente é uma vitória alcançada. Somos impelidos a aprender sempre mais e a lutar por um lugar ao sol. Lugar que já temos reservado, mas que só nos pertencerá se realmente o conquistarmos e merecermos.
O conflito entre o querer e não poder, o combate ao desânimo, à sensação de impotência, incapacidade e exaustão, o embate aos sofrimentos impostos pelo dia-a-dia, gera muitas vezes angústia e até mesmo a depressão, fazendo com que deixemos de realizar nossos sonhos e atingir nossos objetivos. E justamente nesse momento devemos reunir todas as nossas forças, nos munirmos de fé, coragem, e vencer esse grande desafio. Essa batalha, talvez seja uma das mais difíceis, pois depende do sucesso de todas as outras, e de uma específica, a vitória sobre nós mesmos, nossa maior e mais importante conquista.
O homem é também um sonhador, pois sonha até mesmo acordado viajando por vezes em seu subconsciente tentando alcançar seus objetivos mais recônditos. Juntar o desbravador ao sonhador é o que fará a diferença. Somando-se a fé,essa vontade incondicional, juntos farão o combustível necessário para converter em garra esse ímpeto de vencer, de chegar onde queremos, realizar nossos sonhos e, enfim gritarmos ao mundo: Consegui, venci minha primeira batalha, conquistei meu lugar e o direito de continuar lutando pela vida!


R.Cássia
(05/12/07)

PLANEJAMENTO PEDAGÓGICO.

      Construir um planejamento educacional nos dias de hoje não é tarefa fácil diante dos inúmeros problemas que perpassa o país e a própria educação. Estamos limitados às políticas sociais restritivas, tendo que lidar com problemas sociais abrangentes.
      O ideal ao pensarmos o planejamento seria poder unir vários setores de interesses para o cidadão dentro do complexo educacional, de forma que pudéssemos atingir os diferentes universos ligados a escola, podendo efetivamente contribuir para o desenvolvimento do ser humano como um todo, além de adequar a realidade de cada um a sua unidade de ensino.
      Um planejamento educacional deve conter um projeto educativo bem estruturado, que possa ter a participação de vários agentes sociais e da própria sociedade, de maneira que contribua na organização, e no resultado final, como somatório dos interesses fundamentais em prol do progresso desejado.
      Repensar a escola, seus espaços físicos, apropriando-os adequadamente; organizando e atualizando suas bibliotecas; formulando novas diretrizes curriculares; orientando e qualificando seus professores; dimensionando os setores administrativos, entre outros, também se faz necessário. Como também e principalmente, introduzir uma proposta social / pedagógica para dar aos estudantes e professores condições de se integrarem ao ambiente escolar, despertando interesses em sala de aula, para que solidifiquem o emprenho na busca pelo conhecimento.
      Deparamo-nos hoje com um quadro difícil, complexo e um tanto quanto assustador, mas não impossível de ser mudado. Há que se investir em novas perspectivas, instigar consciências, fomentar superação. Mas, acima de tudo, requer estimular o empenho, criar interesses, desenvolver habilidades e condições favoráveis para essa transformação. Trabalho árduo que só se tornará possível, obviamente, reunindo-se forças em junção a um bom planejamento educacional.


CONTO DE ESCOLA

Conto de Escola - Machado de Assis


CONTO DE ESCOLA
Machado de Assis


A escola era na Rua do Costa, um sobradinho de grade de pau. O ano era de 1840. Naquele dia - uma segunda-feira, do mês de maio - deixei-me estar alguns instantes na Rua da Princesa a ver onde iria brincar a manhã. Hesitava entre o morro de S. Diogo e o Campo de Sant'Ana, que não era então esse parque atual, construção de gentleman, mas um espaço rústico, mais ou menos infinito, alastrado de lavadeiras, capim e burros soltos. Morro ou campo? Tal era o problema. De repente disse comigo que o melhor era a escola. E guiei para a escola. Aqui vai a razão.
Na semana anterior tinha feito dois suetos, e, descoberto o caso, recebi o pagamento das mãos de meu pai, que me deu uma sova de vara de marmeleiro. As sovas de meu pai doíam por muito tempo. Era um velho empregado do Arsenal de Guerra, ríspido e intolerante. Sonhava para mim uma grande posição comercial, e tinha ânsia de me ver com os elementos mercantis, ler, escrever e contar, para me meter de caixeiro. Citava-me nomes de capitalistas que tinham começado ao balcão. Ora, foi a lembrança do último castigo que me levou naquela manhã para o colégio. Não era um menino de virtudes.
Subi a escada com cautela, para não ser ouvido do mestre, e cheguei a tempo; ele entrou na sala três ou quatro minutos depois. Entrou com o andar manso do costume, em chinelas de cordovão, com a jaqueta de brim lavada e desbotada, calça branca e tesa e grande colarinho caído. Chamava-se Policarpo e tinha perto de cinqüenta anos ou mais. Uma vez sentado, extraiu da jaqueta a boceta de rapé e o lenço vermelho, pô-los na gaveta; depois relanceou os olhos pela sala. Os meninos, que se conservaram de pé durante a entrada dele, tornaram a sentar-se. Tudo estava em ordem; começaram os trabalhos.
- Seu Pilar, eu preciso falar com você, disse-me baixinho o filho do mestre.
Chamava-se Raimundo este pequeno, e era mole, aplicado, inteligência tarda. Raimundo gastava duas horas em reter aquilo que a outros levava apenas trinta ou cinqüenta minutos; vencia com o tempo o que não podia fazer logo com o cérebro. Reunia a isso um grande medo ao pai. Era uma criança fina, pálida, cara doente; raramente estava alegre. Entrava na escola depois do pai e retirava-se antes. O mestre era mais severo com ele do que conosco.
- O que é que você quer?
- Logo, respondeu ele com voz trêmula.
Começou a lição de escrita. Custa-me dizer que eu era dos mais adiantados da escola; mas era. Não digo também que era dos mais inteligentes, por um escrúpulo fácil de entender e de excelente efeito no estilo, mas não tenho outra convicção. Note-se que não era pálido nem mofino: tinha boas cores e músculos de ferro. Na lição de escrita, por exemplo, acabava sempre antes de todos, mas deixava-me estar a recortar narizes no papel ou na tábua, ocupação sem nobreza nem espiritualidade, mas em todo caso ingênua. Naquele dia foi a mesma coisa; tão depressa acabei, como entrei a reproduzir o nariz do mestre, dando-lhe cinco ou seis atitudes diferentes, das quais recordo a interrogativa, a admirativa, a dubitativa e a cogitativa. Não lhes punha esses nomes, pobre estudante de primeiras letras que era; mas, instintivamente, dava-lhes essas expressões. Os outros foram acabando; não tive remédio senão acabar também, entregar a escrita, e voltar para o meu lugar.
Com franqueza, estava arrependido de ter vindo. Agora que ficava preso, ardia por andar lá fora, e recapitulava o campo e o morro, pensava nos outros meninos vadios, o Chico Telha, o Américo, o Carlos das Escadinhas, a fina flor do bairro e do gênero humano. Para cúmulo de desespero, vi através das vidraças da escola, no claro azul do céu, por cima do morro do Livramento, um papagaio de papel, alto e largo, preso de uma corda imensa, que bojava no ar, uma coisa soberba. E eu na
escola, sentado, pernas unidas, com o livro de leitura e a gramática nos joelhos.

- Fui um bobo em vir, disse eu ao Raimundo.
- Não diga isso, murmurou ele.
Olhei para ele; estava mais pálido. Então lembrou-me outra vez que queria pedir-me alguma coisa, e perguntei-lhe o que era. Raimundo estremeceu de novo, e, rápido, disse-me que esperasse um pouco; era uma coisa particular.
- Seu Pilar... murmurou ele daí a alguns minutos.
- Que é?
- Você...
- Você quê?
Ele deitou os olhos ao pai, e depois a alguns outros meninos. Um destes, o Curvelo, olhava para ele, desconfiado, e o Raimundo, notando-me essa circunstância, pediu alguns minutos mais de espera. Confesso que começava a arder de curiosidade. Olhei para o Curvelo, e vi que parecia atento; podia ser uma simples curiosidade vaga, natural indiscrição; mas podia ser também alguma coisa entre eles. Esse Curvelo era um pouco levado do diabo. Tinha onze anos, era mais velho que nós.
Que me quereria o Raimundo? Continuei inquieto, remexendo-me muito, falando-lhe baixo, com instância, que me dissesse o que era, que ninguém cuidava dele nem de mim. Ou então, de tarde...
- De tarde, não, interrompeu-me ele; não pode ser de tarde.
- Então agora...
- Papai está olhando.
Na verdade, o mestre fitava-nos. Como era mais severo para o filho, buscava-o muitas vezes com os olhos, para trazê-lo mais aperreado. Mas nós também éramos finos; metemos o nariz no livro, e continuamos a ler. Afinal cansou e tomou as folhas do dia, três ou quatro, que ele lia devagar, mastigando as idéias e as paixões. Não esqueçam que estávamos então no fim da Regência, e que era grande a agitação pública. Policarpo tinha decerto algum partido, mas nunca pude averiguar esse ponto. O pior que ele podia ter, para nós, era a palmatória. E essa lá estava, pendurada do portal da janela, à direita, com os seus cinco olhos do diabo. Era só levantar a mão, despendurá-la e brandi-la, com a força do costume, que não era pouca. E daí, pode ser que alguma vez as paixões políticas dominassem nele a ponto de poupar-nos uma ou outra correção. Naquele dia, ao menos, pareceu-me que lia as folhas com muito interesse; levantava os olhos de quando em quando, ou tomava uma pitada, mas tornava logo aos jornais, e lia a valer.
No fim de algum tempo - dez ou doze minutos - Raimundo meteu a mão no bolso das calças e olhou para mim.
- Sabe o que tenho aqui?
- Não.
- Uma pratinha que mamãe me deu.
- Hoje?
- Não, no outro dia, quando fiz anos...
- Pratinha de verdade?
- De verdade.
Tirou-a vagarosamente, e mostrou-me de longe. Era uma moeda do tempo do rei, cuido que doze vinténs ou dois tostões, não me lembro; mas era uma moeda, e tal moeda que me fez pular o sangue no coração. Raimundo revolveu em mim o olhar pálido; depois perguntou-me se a queria para mim. Respondi-lhe que estava caçoando, mas ele jurou que não.
- Mas então você fica sem ela?
- Mamãe depois me arranja outra. Ela tem muitas que vovô lhe deixou, numa caixinha; algumas são de ouro. Você quer esta?
Minha resposta foi estender-lhe a mão disfarçadamente, depois de olhar para a mesa do mestre. Raimundo recuou a mão dele e deu à boca um gesto amarelo, que queria sorrir. Em seguida propôs-me um negócio, uma troca de serviços; ele me daria a moeda, eu lhe explicaria um ponto da lição de sintaxe. Não conseguira reter nada do livro, e estava com medo do pai. E concluía a proposta esfregando a pratinha nos joelhos...
Tive uma sensação esquisita. Não é que eu possuísse da virtude uma idéia antes própria de homem; não é também que não fosse fácil em empregar uma ou outra mentira de criança. Sabíamos ambos enganar ao mestre. A novidade estava nos termos da proposta, na troca de lição e dinheiro, compra franca, positiva, toma lá, dá cá; tal foi a causa da sensação. Fiquei a olhar para ele, à toa, sem poder dizer nada.
Compreende-se que o ponto da lição era difícil, e que o Raimundo, não o tendo aprendido, recorria a um meio que lhe pareceu útil para escapar ao castigo do pai. Se me tem pedido a coisa por favor, alcançá-la-ia do mesmo modo, como de outras vezes, mas parece que era lembrança das outras vezes, o medo de achar a minha vontade frouxa ou cansada, e não aprender como queria, - e pode ser mesmo que em alguma ocasião lhe tivesse ensinado mal, - parece que tal foi a causa da proposta. O pobre-diabo contava com o favor, - mas queria assegurar-lhe a eficácia, e daí recorreu à moeda que a mãe lhe dera e que ele guardava como relíquia ou brinquedo; pegou dela e veio esfregá-la nos joelhos, à minha vista, como uma tentação... Realmente, era bonita, fina, branca, muito branca; e para mim, que só trazia cobre no bolso, quando trazia alguma coisa, um cobre feio, grosso, azinhavrado...
Não queria recebê-la, e custava-me recusá-la. Olhei para o mestre, que continuava a ler, com tal interesse, que lhe pingava o rapé do nariz. - Ande, tome, dizia-me baixinho o filho. E a pratinha fuzilava-lhe entre os dedos, como se fora diamante... Em verdade, se o mestre não visse nada, que mal havia? E ele não podia ver nada, estava agarrado aos jornais, lendo com fogo, com indignação...
- Tome, tome...
Relancei os olhos pela sala, e dei com os do Curvelo em nós; disse ao Raimundo que esperasse. Pareceu-me que o outro nos observava, então dissimulei; mas daí a pouco deitei-lhe outra vez o olho, e - tanto se ilude a vontade! - não lhe vi mais nada. Então cobrei ânimo.
- Dê cá...
Raimundo deu-me a pratinha, sorrateiramente; eu meti-a na algibeira das calças, com um alvoroço que não posso definir. Cá estava ela comigo, pegadinha à perna. Restava prestar o serviço, ensinar a lição e não me demorei em fazê-lo, nem o fiz mal, ao menos conscientemente; passava-lhe a explicação em um retalho de papel que ele recebeu com cautela e cheio de atenção. Sentia-se que despendia um esforço cinco ou seis vezes maior para aprender um nada; mas contanto que ele escapasse ao castigo, tudo iria bem.
De repente, olhei para o Curvelo e estremeci; tinha os olhos em nós, com um riso que me pareceu mau. Disfarcei; mas daí a pouco, voltando-me outra vez para ele, achei-o do mesmo modo, com o mesmo ar, acrescendo que entrava a remexer-se no banco, impaciente. Sorri para ele e ele não sorriu; ao contrário, franziu a testa, o que lhe deu um aspecto ameaçador. O coração bateu-me muito.
- Precisamos muito cuidado, disse eu ao Raimundo.
- Diga-me isto só, murmurou ele.
Fiz-lhe sinal que se calasse; mas ele instava, e a moeda, cá no bolso, lembrava-me o contrato feito. Ensinei-lhe o que era, disfarçando muito; depois, tornei a olhar para o Curvelo, que me pareceu ainda mais inquieto, e o riso, dantes mau, estava agora pior. Não é preciso dizer que também eu ficara em brasas, ansioso que a aula acabasse; mas nem o relógio andava como das outras vezes, nem o mestre fazia caso da escola; este lia os jornais, artigo por artigo, pontuando-os com exclamações, com gestos de ombros, com uma ou duas pancadinhas na mesa. E lá fora, no céu azul, por cima do morro, o mesmo eterno papagaio, guinando a um lado e outro, como se me chamasse a ir ter com ele. Imaginei-me ali, com os livros e a pedra embaixo da mangueira, e a pratinha no bolso das calças, que eu não daria a ninguém, nem que me serrassem; guardá-la-ia em casa, dizendo a mamãe que a tinha achado na rua. Para que me não fugisse, ia-a apalpando, roçando-lhe os dedos pelo cunho, quase lendo pelo tato a inscrição, com uma grande vontade de espiá-la.
- Oh! seu Pilar! bradou o mestre com voz de trovão.
Estremeci como se acordasse de um sonho, e levantei-me às pressas. Dei com o mestre, olhando para mim, cara fechada, jornais dispersos, e ao pé da mesa, em pé, o Curvelo. Pareceu-me adivinhar tudo.
- Venha cá! bradou o mestre.
Fui e parei diante dele. Ele enterrou-me pela consciência dentro um par de olhos pontudos; depois chamou o filho. Toda a escola tinha parado; ninguém mais lia, ninguém fazia um só movimento. Eu, conquanto não tirasse os olhos do mestre, sentia no ar a curiosidade e o pavor de todos.
- Então o senhor recebe dinheiro para ensinar as lições aos outros? disse-me o Policarpo.
- Eu...
- Dê cá a moeda que este seu colega lhe deu! clamou.
Não obedeci logo, mas não pude negar nada. Continuei a tremer muito. Policarpo bradou de novo que lhe desse a moeda, e eu não resisti mais, meti a mão no bolso, vagarosamente, saquei-a e entreguei-lha. Ele examinou-a de um e outro lado, bufando de raiva; depois estendeu o braço e atirou-a à rua. E então disse-nos uma porção de coisas duras, que tanto o filho como eu acabávamos de praticar uma ação feia, indigna, baixa, uma vilania, e para emenda e exemplo íamos ser castigados. Aqui pegou da palmatória.
- Perdão, seu mestre... solucei eu.
- Não há perdão! Dê cá a mão! Dê cá! Vamos! Sem-vergonha! Dê cá a mão!
- Mas, seu mestre...
- Olhe que é pior!
Estendi-lhe a mão direita, depois a esquerda, e fui recebendo os bolos uns por cima dos outros, até completar doze, que me deixaram as palmas vermelhas e inchadas. Chegou a vez do filho, e foi a mesma coisa; não lhe poupou nada, dois, quatro, oito, doze bolos. Acabou, pregou-nos outro sermão. Chamou-nos sem-vergonhas, desaforados, e jurou que se repetíssemos o negócio apanharíamos tal castigo que nos havia de lembrar para todo o sempre. E exclamava: Porcalhões! tratantes! faltos de brio!
Eu, por mim, tinha a cara no chão. Não ousava fitar ninguém, sentia todos os olhos em nós. Recolhi-me ao banco, soluçando, fustigado pelos impropérios do mestre. Na sala arquejava o terror; posso dizer que naquele dia ninguém faria igual negócio. Creio que o próprio Curvelo enfiara de medo. Não olhei logo para ele, cá dentro de mim jurava quebrar-lhe a cara, na rua, logo que saíssemos, tão certo como três e dois serem cinco.
Daí a algum tempo olhei para ele; ele também olhava para mim, mas desviou a cara, e penso que empalideceu. Compôs-se e entrou a ler em voz alta; estava com medo. Começou a variar de atitude, agitando-se à toa, coçando os joelhos, o nariz. Pode ser até que se arrependesse de nos ter denunciado; e na verdade, por que denunciar-nos? Em que é que lhe tirávamos alguma coisa?
- Tu me pagas! tão duro como osso! dizia eu comigo.
Veio a hora de sair, e saímos; ele foi adiante, apressado, e eu não queria brigar ali mesmo, na Rua do Costa, perto do colégio; havia de ser na Rua larga São Joaquim. Quando, porém, cheguei à esquina, já o não vi; provavelmente escondera-se em algum corredor ou loja; entrei numa botica, espiei em outras casas, perguntei por ele a algumas pessoas, ninguém me deu notícia. De tarde faltou à escola.
Em casa não contei nada, é claro; mas para explicar as mãos inchadas, menti a minha mãe, disse-lhe que não tinha sabido a lição. Dormi nessa noite, mandando ao diabo os dois meninos, tanto o da denúncia como o da moeda. E sonhei com a moeda; sonhei que, ao tornar à escola, no dia seguinte, dera com ela na rua, e a apanhara, sem medo nem escrúpulos...
De manhã, acordei cedo. A idéia de ir procurar a moeda fez-me vestir depressa. O dia estava esplêndido, um dia de maio, sol magnífico, ar brando, sem contar as calças novas que minha mãe me deu, por sinal que eram amarelas. Tudo isso, e a pratinha... Saí de casa, como se fosse trepar ao trono de Jerusalém. Piquei o passo para que ninguém chegasse antes de mim à escola; ainda assim não andei tão depressa que amarrotasse as calças. Não, que elas eram bonitas! Mirava-as, fugia aos encontros, ao lixo da rua...
Na rua encontrei uma companhia do batalhão de fuzileiros, tambor à frente, rufando. Não podia ouvir isto quieto. Os soldados vinham batendo o pé rápido, igual, direita, esquerda, ao som do rufo; vinham, passaram por mim, e foram andando. Eu senti uma comichão nos pés, e tive ímpeto de ir atrás deles. Já lhes disse: o dia estava lindo, e depois o tambor... Olhei para um e outro lado; afinal, não sei como foi, entrei a marchar também ao som do rufo, creio que cantarolando alguma coisa: Rato na casaca... Não fui à escola, acompanhei os fuzileiros, depois enfiei pela Saúde, e acabei a manhã na Praia da Gamboa. Voltei para casa com as calças enxovalhadas, sem pratinha no bolso nem ressentimento na alma. E contudo a pratinha era bonita e foram eles, Raimundo e Curvelo, que me deram o primeiro conhecimento, um da corrupção, outro da delação; mas o diabo do tambor...


Pesquisa de Campo sobre o Ensino Fundamental de Nove Anos

Pesquisando sobre a implementação do Ensino Fundamental de Nove Anos nas escolas, colhemos fotos e entrevistas em duas instituições: Pública e Particular. Cada uma das instituições havia implantado o novo processo há poucos anos, e percebemos os esforços para que o trabalho seja realmente efetivado.

A primeira escola pesquisada foi o COLÉGIO MUNICIPAL EXPEDICIONÁRIO AQUINO DE ARAÚJO, no bairro Vila São Luiz, em Duque de Caxias.

 



A segunda escola visitada foi o Educandário Santa Cecília, no bairro Vila São Luiz, em Duque de Caxias.

Ainda sobre o Ensino Fundamental de Nove Anos...

Ampliação do ensino fundamental para nove anos.


Sabemos que a idéia realmente pode dar bons frutos, pois a criança aos seis anos tem a curiosidade do aprendizado despertada e crescente.

A forma lúdica de mesclar brincadeiras ao processo pedagógico pode e deve auxiliar a evolução da criança nessa fase da educação. Mas há que se ter cuidados. A criança aos seis anos deve ser bem preparada para iniciar o ensino fundamental sem sofrer o choque das mudanças.

Sabemos também que, muitas escolas públicas e privadas já implementaram o ensino fundamental de nove anos como novo sistema educacional. Mas, será que realmente entenderam o processo, ou apenas mudaram a nomenclatura?
Será que os responsáveis pelo trabalho de divulgação, distribuição de material,  informações e inspeção, estão seguindo direitinho a "cartilha"? E nossos governantes, têm dado condições às escolas públicas para as transformações necessárias?
Sabemos que muitas escolas precisam e ainda lutam com as reformas estruturais, com a preparação, a qualidade e condições de trabalho para seus profissionais, com a possibilidade de oferecer o mínimo possível aos seus alunos, pois faltam carteiras, quadros, material, merendas, professores, entre outras coisas...
Vamos às mudanças, mas com responsabilidade e qualidade, pois o caminho é longo e o trabalho é árduo! 

Ensino Fundamental de nove anos.





Ensino Fundamental de nove anos.


A partir de 2010 o ensino fundamental que antes era de oito anos, passará a ter nove anos, efetivamente. A mudança que já está sendo instituída em escolas de alguns estados e seus municípios, não será a primeira sofrida pelo ensino fundamental. Já em 1961, a Lei nº 4.021 estabelecia quatro anos para o mesmo, com o Acordo de Punta Del Este e Santiago, o governo assumia a obrigação de estabelecer a duração de seis anos ao ensino primário, prevendo cumpri-la até 1970. Em 1971, a Lei nº 5.692 prolongou-o para oito anos.
Em 1996, a LDB mostrou a intenção de mudanças para nove anos, com  idade inicial de seis anos para a inclusão de crianças na primeira série. Em 9 de Janeiro de 2001 o PNE aprova a idéia que se transforma em meta para a educação nacional pela Lei nº 10.172, com duas intenções primordiais: “oferecer maiores oportunidades de aprendizagem no período da escolarização obrigatória e assegurar que, ingressando mais cedo no sistema de ensino, as crianças prossigam nos estudos, alcançando maior nível de escolaridade”.
“No dia 06/02/2006 o Presidente da República sancionou a Lei nº 11.274 que regulamenta o ensino fundamental de 9 anos. Neste o objetivo é assegurar a todas as crianças um tempo maior de convívio escolar, maiores oportunidades de aprender e, com isso, uma aprendizagem com mais qualidade.
As legislações pertinentes ao tema são: Lei Nº 11274/2006, PL 144/2005, Lei 11.114/2005, Parecer CNE/CEB Nº 6/2005, Resolução CNE/CEB Nº 3/2005, Parecer CNE/CEB Nº 18/2005. O CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO- CÂMARA DE EDUCAÇÃO BÁSICA, através da RESOLUÇÃO Nº 3, DE 3 DE AGOSTO DE 2005, define normas nacionais para a ampliação do Ensino Fundamental para nove anos. No seu artigo 2º explicita: Art.2º A organização do Ensino Fundamental de 9 (nove) anos e da Educação Infantil adotará a seguinte nomenclatura:
Etapa de ensino - Educação Infantil -Creche: Faixa etária - até 3 (três) anos de idade - Pré-escola: Faixa etária -4 (quatro) e 5 (cinco) anos de idade.
Etapa de ensino - Ensino Fundamental de nove anos- até 14 (quatorze)  anos de idade. Anos iniciais - Faixa etária de 6 (seis) a 10 (dez) anos de idade - duração 5 (cinco) anos. Anos finais - Faixa etária de 11 (onze) a 14 (quatorze) anos de idade - duração 4 (quatro) anos.
A Lei 11.274, de 6 de fevereiro de 2006, altera a redação dos arts. 29, 30, 32 e 87 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, dispondo sobre a duração de 9 (nove) anos para o ensino fundamental, com matrícula obrigatória a partir dos 6 (seis) anos de idade.
Espera-se que este seja um projeto eficaz, que possa efetivamente contribuir para a erradicação do analfabetismo em nosso país. Que esta lei possa contribuir para uma educação de qualidade, garantindo uma aprendizagem eficiente.




Como as redes estão se adaptando



De 10 de maio a 10 de junho, NOVA ESCOLA fez um levantamento sobre a implementação do Ensino Fundamental de 9 anos em todas as Secretarias de Educação dos estados e das capitais. Das 53, sete não responderam às questões. Até o fim da coleta de dados, apenas o Amapá e a capital de São Paulo ainda não tinham começado a implantar o novo modelo (veja o gráfico à direita).


Mesmo assim, dez estados e nove cidades informaram não ter matriz curricular, o que indica que a ampliação se deu sem um documento para guiar o trabalho. Outro problema é estrutural: apesar da alta adesão, 11 estados e sete capitais não fizeram adaptações para atender ao novo modelo.


Nossa pesquisa contemplou ainda a análise das matrizes curriculares de Língua Portuguesa e Matemática para o 1º ano por duas especialistas: Karina Rizek, da Escola de Educadores, e Beatriz Ferraz, do Centro de Educação e Documentação para Ação Comunitária (Cedac), ambos em São Paulo. "Os documentos mostram que, infelizmente, houve mais o movimento de antecipar a realidade da antiga 1ª série para esse novo público do que o de manter o que era proposto na pré-escola".

http://revistaescola.abril.com.br/politicas-publicas/legislacao/prepare-se-novo-aluno-esta-chegando-496498.shtml








MEMORIAL ESCOLAR

 Quando soube que deveria escrever um memorial para a disciplina de E.E.P.P.IV, do curso de Pedagogia na FEBF/UERJ, fiquei um tanto quanto apreensiva. A expressão não me soou muito bem, afinal, no auge dos meus 50 anos escrever um memorial, parecia na verdade a transcrição de um epitáfio. Estranha sensação!
Depois de acostumar-me ao fato e amenizar o peso da palavra memorial, travestindo-a de saudades com minhas lembranças vivas, achei que poderia tentar dar-lhe a conotação que a expressão requer. Talvez tenha que dividi-la em algumas etapas, afinal, são "apenas" cinqüenta anos... 

Primeira parte:

 Nasci no atual estado do Rio de Janeiro, antigo estado da Guanabara, sou a primogênita de cinco irmãos, e como tal sempre me coloquei na posição de defensora da prole, responsável pelo bom funcionamento da família. Após a separação dos meus pais, nos mudamos para São João de Meriti, e lá entre quatro e cinco anos de idade iniciei minha vida escolar, com uma amiga de minha mãe que lecionava em casa. Relembrar essa experiência é realmente gratificante, pois adorava a novidade.
Anos 60, mais exatamente 1964, marcante em todos os sentidos. Vários acontecimentos históricos poderiam ser citados, mas o que  teria maior importância em nosso contexto foi o golpe militar  e a ditatura resultante deste episódio. Na verdade, desta época, minhas memórias são apenas as reportagens que ficaram arquivadas e contadas na história. Lembro-me apenas que sentava em uma cadeira enorme e quase não alcançava a mesa de estudos. Precisava usar uma grande almofada para conseguir alcançar a mesa e escrever. Aprendi assim a juntar as primeiras letrinhas. Tempos de descobertas!
Pouco tempo depois (talvez um ano apenas), estreei o COLÉGIO SUMARÉ recém inaugurado próximo a minha casa, era então GINÁSIO SUMARÉ. Nesse colégio tive o privilégio de construir minha vida escolar até o segundo grau (ensino médio) e viver aventuras maravilhosas.
Sempre fui muito curiosa culturalmente, adorava estudar e participar de todas as tarefas que envolviam arte e cultura. Desfilei nas apresentações de 7 de setembro com a banda do colégio tocando tarol, instrumento de percussão da família da caixa. Participei do coral da escola em atividades de canto. Representei alguns papéis nas atividades de teatro. Fui também porta-bandeira nos desfiles de 7 de setembro, como responsável pela bandeira do município, fato que me encheu de orgulho. Devo acrescentar que sou tímida, porém atrevida...
Gostava muito de português e literatura, e em uma fase de descoberta pelo gosto de escrever, participei de um concurso de poesias incentivada pelo meu professor Jorge de Andrade, ficando em terceiro lugar, recebendo uma linda medalha da qual me orgulhei profundamente.
Mas, por esses desvios do destino em que nossos caminhos nem sempre nos levam aonde queremos, tendo que trabalhar muito cedo, precisei fazer o curso de Contabilidade (naquela época, segundo grau técnico profissionalizante) para auxiliar na função que exercia, deixando as poesias escondidas nos diários da vida. Não concluí o curso de contabilidade, parei quase no final porque o colégio passava por dificuldades e acabou fechando, transferindo seus alunos para outro bem mais distante. Decepcionada, tranquei a matrícula, pois não tinha condições de continuar.
Nesse período me entreguei ao trabalho, à família e aos preparativos para o casamento que, aos vinte e um anos de idade veio a acontecer. Fase de lua-de-mel, dedicação à vida de casada e ao trabalho, o retorno às aulas ficaram em segundo plano. Mudei-me para Duque de Caxias, e aos vinte e cinco anos tive minha primeira e única filha, nessa época por conta de problemas de saúde do meu esposo, precisei trabalhar em casa, utilizando os conhecimentos de modelagem e corte e costura, de cursos que havia feito anteriormente. Concluir os estudos se tornava um sonho cada vez mais distante.

Segunda parte:
 Em 2003, aos quarenta e quatro anos, sentindo enorme necessidade de me atualizar, e ávida por conhecimento, consegui retomar os estudos. Refiz o então ensino médio no CES (Centro de Estudos Supletivos), com a educação para jovens e adultos. Período maravilhoso que, mesmo com todos os problemas vivenciados, foi de refazimento, descobertas, grandes amizades e renovação de votos com a arte. Tive que interrompê-lo algumas vezes por vários problemas, alguns de saúde, mas não desanimei, retomando-o no ano de 2006. Parecia ter chegado o meu momento.
No CES além do ensino médio, fiz concomitantemente o curso de desenho e pintura em tela com a professora Macaf que, juntamente ao professor e diretor Miguel, a professora de Português e Literatura Terezinha, e mais alguns amigos, aos quais agradeço imensamente, me incentivaram a fazer um curso pré-vestibular para tentar a  carreira universitária.
No ano de 2007, enquanto finalizava o ensino médio no CES, fiz o pré-vestibular comunitário na UERJ, e no final do mesmo ano tentei o vestibular, como experiência, para as faculdades federais e a estadual do Rio de Janeiro, UFF, UFRJ e UERJ, nos cursos de Serviço Social e Pedagogia, respectivamente. Para minha surpresa fui aprovada nas três!

Iniciei minha carreira universitária em 2008, resolvendo optar por duas faculdades, pois como eu disse, sou um tanto quanto atrevida. Entrei no primeiro semestre na FEBF/UERJ no curso de Pedagogia, e no segundo semestre na UFRJ em Serviço Social, para então decidir em qual me adaptaria melhor. Hoje, aos cinqüenta anos de idade, apaixonada pelos dois cursos, estou no quarto período de Pedagogia e no terceiro em Serviço Social. Espero evidentemente ter saúde, força de vontade e condições de levar à frente as carreiras que optei, sem prejuízo para ambas, mas principalmente, com o objetivo de exercê-las conscientemente e com responsabilidade, somando os conhecimentos em busca de um bem maior, em benefício do todo.


Desafio

Caminha, vá!
Segue tua sina,
Desvenda teu mistério,
Procura teu lugar.
Ousa decifrar-te,
Encara teus medos,
Aguça teus sentidos,
Sobreponha-te à dor.
Declara guerra acirrada
Aos teus maiores defeitos.


Vença a ti!Teu inimigo maior.
Observa teu céu,
Vês!
Celeste é a imensidão,
Onde depois da jornada,
Vencidas todas as batalhas,
Reluzirás entre tantos,
Poucos reflexos de luz.

R.Cássia  

(Abril 2007)



                               Este foi meu primeiro quadro!



                (Baía de Guanabara, Óleo sobre tela, 40x50)

 
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